Está na ordem do dia a urgência na alteração dos hábitos alimentares! É conhecido por todos que a nossa sociedade está doente, que a principal causa de morte no nosso país está relacionada com as doenças do aparelho circulatório, nomeadamente as doenças cerebrovasculares, também conhecidas por acidentes vasculares cerebrais (AVC), e a doença isquémica do coração (enfarte do miocárdio). Sabemos que as gerações mais novas já apresentam sinais de risco, como o excesso de peso/ obesidade, cuja taxa de incidência nos faz antever que o futuro da população adulta ativa, daqui a 10- 15 anos, será mais doente que a população idosa atual. Os fatores associados ao excesso de peso/ obesidade, intimamente ligados aos hábitos alimentares e estilos de vida estão na base destas tendências de saúde pública.

Tem sido frequente, especialmente nos últimos 3 anos, em consulta, receber indivíduos que optaram por mudar radicalmente o seu padrão alimentar. O Veganismo, é hoje uma tendência.

O Veganismo, trata-se de uma ideologia de vida que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração animal, seja alimentar, ligada ao vestuário ou à cosmética.

O padrão alimentar vegan exclui por esta razão todas as opções alimentares de origem animal ou que exijam sacrifício animal, para a produção ou processamento de alimentos.

O Veganismo baseia-se no consumo de cereais, frutas, vegetais e tubérculos.

A avaliação do consumo alimentar vegan veio mostrar alterações metabólicas muito positivas, a médio prazo, como:

– maiores níveis de energia sentidos pelo individuo vegan, que podem ser explicados pelo padrão alimentar rico em vitaminas, minerais, fibra e pobre em hidratos de carbono simples,

– melhor saúde cardiovascular, que se deve a uma redução nos níveis de gordura sanguíneo, especialmente nos valores de colesterol e LDL (mau colesterol), bem como de triglicéridos. Facto mais uma vez relacionado com a adoção de uma alimentação natural, pouco processada e pobre em hidratos de carbono refinados e altamente processados. A presença de frutos secos e oleaginosas permite também a melhoria deste quadro clínico.

– melhor saúde intestinal, que contribui para aspetos tão importantes como: resistência à fadiga (um intestino saudável processa melhor todos os alimentos, melhorando desta forma a sua digestão, metabolização e distribuição), maior imunidade, células intestinais integras, população intestinal benéfica, simbolizam “um portão” bem fechado para os agentes indesejados, como vírus ou bactérias, melhor relação entre alimentos, saciedade e peso corporal, uma vez que a alimentação vegan é pobre em açucares melhora a captação de insulina, tornando o risco de insulinarresistencia muito baixo.

Porém, quem quer adotar um estilo de vida vegan deve saber que sua adoção deve ser realizada de forma equilibrada e até corretamente suplementada, para que não se registem carências vitamínicas e minerais, devido à ausência de fontes de origem animal.

As maiores preocupações, deste padrão alimentar, concentram-se nos seguintes nutrientes:

Vitaminas lipossolúveis – D, A E

As vitaminas lipossolúveis são vitaminas essencialmente de origem animal. Existem outras fontes destas vitaminas, como as oleoginosas, porém em dosagens muito inferiores. As vitaminas D, A e E são essencialmente vitaminas que protegem as células. A Vitamina D tem um papel importante na saúde óssea e, hoje é também discutida a sua importância para o bem-estar emocional bem como na profilaxia de determinados cancros. As Vitaminas A e E são poderosos antioxidante e anti-inflamatórios naturais.

Minerais – Ferro, Zinco e cálcio

O mineral ferro é de todos o que em valores muito baixos no nosso organismo, dará uma sintomatologia mais rápida, que será presenciada no cansaço fácil e até mesmo falta de ar.

A carência em zinco, pode trazer problemas mais graves para o individuo. Este mineral é importante para a diferenciação, multiplicação e regeneração de células e tecidos. É igualmente importante na regulação da função hormonal, por ser um elemento mineral importante nos recetores de membrana. Na sua ausência há maior dificuldade na absorção hormonal. A carência em Zinco é também conhecida pela sintomatologia: diarreia, anorexia, falta de energia, baixa de imunidade e irritabilidade.

Relativamente ao mineral cálcio, inicialmente a sua carência no organismo pode não ter um sinal de alerta. O cálcio participa essencialmente na saúde óssea, que enfraquecerá na sua ausência, iniciando um processo de osteopénia, que mais tarde se transformará em osteoporose. Mas, se o individuo estiver atento aos sinais, a carência de cálcio pode ser percebida pela alteração no comportamento dos tecidos musculares, nomeadamente tecido muscular e cardíaco.

Vitamina B12

Trata-se de uma vitamina extremamente importante para o bom funcionamento das células dos sistemas: nervoso e sanguíneo. Por se tratar de uma vitamina presente nos tecidos animais, no padrão alimentar vegan, ela não está presente. É por isso importante suplementar. A sua carência pode contribuir para estados físicos muito debilitados com cansaço fácil e difícil oxigenação dos tecidos e órgãos, levando a uma falta de energia, dormência nas extremidades dos membros superiores e inferiores, falta de apetite / anorexia, confusão mental e dificuldades de raciocínio e memória. Há ainda casos descritos de dificuldade de equilíbrio.

Para quem adotou este padrão alimentar, ou vai adotar, importa referir, que quaisquer carências nutricionais não serão sentidas nos primeiros momentos deste estilo alimentar, mas no decorrer da eliminação de fontes animais, uma vez que as reservas vão sendo reduzidas.

É importante aconselhar-se com um nutricionista de forma a evitar episódios extremos de carência.

Viver em forma, é também conhecer, perceber e defender-se.

Ana Filipa Baião

Nutricionista CLÍNICA EM FORMA