Esta foi a notícia que hoje alarmou pais, professores e especialistas de saúde. O cenário da obesidade em Portugal continua muito negro e sem tendências a melhorar, segundo o estudo “Adolescent obesity and related behaviours: trends and inequalities in the WHO European Region, 2002-2014”, que afirma que a prevalência da obesidade em Portugal, nos adolescentes aos 11, aos 13 e aos 15 anos, seja de 5%. Este número representa uma subida de 0,3 pontos percentuais desde 2002.
Quando o grande objetivo, nessa altura, era a diminuição deste número; aconteceu precisamente o contrário. Na altura, e ainda nos dias de hoje, a prevenção é a melhor forma de alertar a população para as consequências da obesidade, contudo, a tendência de uma má alimentação e de uma vida sedentária continua a ser muito elevada.
Mas porque é que os adolescentes têm já obesidade?
Nos dias de hoje é frequente vermos adolescentes com obesidade; o que não acontecia há muitos anos atrás. Primeiro, têm uma vida muito sedentária – no máximo têm 3 horas de educação física por semana na escola; o resto do tempo é sentados à conversa com os amigos ou sentados no computador ou na playstation.
Começa já por não haver nenhuma (ou quase nenhuma) queima de calorias e, para agravar mais esta situação, a alimentação destes adolescentes é à base de fast food e alimentos processados. Muitos dos bares das escolas já não vendem este tipo de produtos, contudo, basta o adolescente dirigir-se ao café ao lado da escola para os adquirir. E se um come, o outro também tem de comer… E as opções mais saborosas e mais baratas, são sempre as menos saudáveis. E já não falamos em legumes nem frutas, pois esses só ao jantar (e quando a mãe obriga).
Portanto, a alimentação mudou drasticamente e a forma como os adolescentes comem influencia muitíssimo a obesidade e outros problemas de saúde que, se não forem detetados agora, podem-no ser mais tarde.
Obviamente que, quando nascem, não têm hábitos, rotinas ou vícios. Mas como é que os ganham? Como é que, de “um dia para o outro” olha para o seu filho e vê que ele está deitado no sofá, a ver televisão, com um pacote de bolachas e uma coca cola? E isto acontece todos os dias… Ou quase todos… E percebe que não é saudável, que não é o melhor comportamento que ele pode ter mas… O que poderá dizer-lhe? Como poderá, então, reagir perante esta situação?
Deparo-me, frequentemente, com pais desesperados sem saber o que podem fazer. Principalmente, sem saber como controlar o que os filhos comem. Porque chegam aos 10, 11 anos e começam a ter um poder diferente; seja um poder de compra (nos bares da escola ou no café ao lado como falei anteriormente); seja um poder persuasivo sobre os pais, avós ou tios. E a comida acaba por ser um escape. Um escape emocional, principalmente.
A comida como compensação
A comida acaba também por ser uma compensação – dos pais que estão pouco tempo com os filhos; dos avós que gostam de mimar os netos; dos tios que trazem doces todos os fins de semana. Enfim… A comida tem um poder muito grande sobre todas as crianças. E o grande problema é quando não consegue mais controlar esse poder.
O grande problema é quando se depara com toda esta situação e percebe que os 5 ou 10 kg a mais já foram há muito tempo e o seu filho já está com quase 100 kg.
Interessante que a contribuir para este resultado estão sobretudo os rapazes, com 6,9%. Já as raparigas registam um valor de 3%. Porquê este valor mais alto nos rapazes? Talvez por serem mais sedentários, jogarem mais playstation e estarem mais tempo sentados. As raparigas quando chegam a uma certa idade têm uma maior preocupação com o corpo, com as dietas, etc. Tudo isso pode estar na origem deste dado.
O que fazer?
Parece-me que o ponto essencial é não deixar chegar a esta situação. A prevenção é sempre a melhor arma que temos, como já referido anteriormente; no entanto, quando as coisas acontecem assim, há algo a fazer. E urgentemente. Para que a situação não se agrave. Ainda mais…
- A primeira coisa a fazer é definir regras. Regras essas que irão permitir que o seu filho não chegue aos 100 quilos, sem que você dê por isso. Estipule um dia por semana (no máximo dois) para que ele possa escolher o que quer comer – por exemplo ao almoço e com direito a uma sobremesa. Mas faça-o com eles, para que ele também sinta que tem o poder de decisão e que você se importou com a opinião dele. Além disso, é fulcral explicar-lhe o porquê de estarem a ser definidas estas regras – aqui pode falar nas consequências da obesidade e, se achar conveniente, mostre-lhe também imagens de meninos com a idade dele e com obesidade.
- Incentive-o a ir consigo ao supermercado. É uma forma de ele a ajudar a escolher alimentos mais saudáveis (e um miminho para ele); de passarem mais tempo juntos e de ele não ficar fechado em casa a jogar consola ou a ver televisão.
- Também podem cozinhar juntos e preparem receitas saudáveis. Faça com que o seu filho se sinta útil a ajudá-la. Peça-lhe a opinião sobre que alimentos escolher para cozinharem.
- Também pode fazer jogos com os alimentos com o seu filho. Por exemplo, adivinhar o nome dos alimentos e dizer quais os que se devem comer e aqueles que só se podem comer uma vez por semana (estes jogos normalmente são feitos com crianças mais pequenas, mas é essencial começar desde pequeninos).
- Inscreva o seu filho em atividades desportivas, preferencialmente em grupo. Para além de conhecer novas pessoas e ter mais sociabilização, ainda pratica exercício físico, que é essencial a todos os níveis.
- Leve o seu filho a uma equipa multidisciplinar, com um nutricionista que o ensine a comer de forma mais adequada e com um psicólogo do emagrecimento que o ajude a modificar os comportamentos menos adaptativos que ele tem tido, seja com a comida ou com outro tipo de situações. É urgente agir agora e nunca se esqueça : não deixe para amanhã, o que pode fazer hoje. Amanhã poderá ser tarde demais…
Incentivar as crianças, principalmente os adolescentes, a terem uma alimentação saudável não é fácil. O fast-food, os doces, os fritos e as gorduras conseguem ter um grande poder sobre eles. O não desistir e o lutar pelos seus filhos e, principalmente, pela saúde deles parece-me que pode ainda ter uma força maior sobre todas estas questões. Não acha?
E em termos nutricionais, o que fazer?
As frutas e os legumes são um dos hábitos mais difíceis de ser incutidos nas crianças e, sobretudo, nos adolescentes (quando já não têm esses hábitos). Mais uma vez, o papel dos pais e família é essencial. Se nunca incentivaram as crianças a comer frutas e legumes, não é com 12 ou 13 anos que o conseguirão fazer; pois aí elas já terão os seus gostos e rotinas e já lhe poderão dizer “Mas se eu nunca comi isto, porque tenho de comer agora?”
Portanto, incutir estes hábitos saudáveis desde logo, é fulcral.
De acordo com este estudo publicado recentemente, 40,9% dos adolescentes consomem fruta, mas há uma nuance: o nosso país está entre aqueles onde o consumo de fruta mais caiu entre 2002 e 2014, com uma descida de 6,8 pontos percentuais neste período.
Quanto aos vegetais, só 28% dos adolescentes portugueses comem estes produtos diariamente. Um valor que subiu dois pontos percentuais em Portugal desde 2002.
Então como incutir o gosto pelas frutas e vegetais?
Primeiro as crianças/adolescentes devem ver os pais a comer este tipo de alimentos.
Depois, é não ter alimentos com muito açúcar ou muito refinados em casa, como batatas fritas de pacote, bolachas ou chocolates.
Cozinhe sempre legumes ou vegetais ao jantar (já que ao almoço é mais difícil de controlar). Se o jantar é brócolos com carne, por exemplo, e se ele fizer uma birra porque não quer comer os brócolos, então paciência. Não lhe dê mais nada para comer, pois ele acabará por comer os brócolos (mais cedo ou mais tarde). Se a felicidade da família depende do que o filho come, então está aqui um grande problema, principalmente se o seu filho for desafiante.
Depois há que pôr a imaginação a trabalhar – e aqui é um trabalho sobretudo com as crianças mais pequenas, nomeadamente, no nome que damos aos pratos e nos próprios pratos que fazemos. Por exemplo: em vez de dizer que vai comer sopa de legumes, diga que vai comer a Sopa das Princesas Encantadas; em vez de dizer que vai comer ervilhas, diga que vai comer berlindes pequeninos… e por aí adiante.
Deixamos-lhe algumas receitas de lanches saudáveis para o seu filho levar para a escola:
- Sandes de pão integral com queijo ou fiambres com algum vegetal, por exemplo cenoura ralada ou alface (existem outras sugestões, mas as duas primeiras são as mais fáceis de incluir na sandes, pois são os vegetais que as crianças mais conhecem e gostam);
- Iogurte (pode preparar iogurte batido com fruta, por exemplo 1 pêssego ou 1 banana);
- Pode prepara um copinho – base: iogurte e por cima frutos secos (por exemplo, amêndoas, nozes, pinhões) e por cima pode também colocar bolacha maria;
- Sumos de fruta natural com sementes de linhaça, tudo passado;
- Grânola feita em casa com cereais integrais (flocos de aveia, linhaça, chia) e mel;
- Fruta seca (por exemplo seque o ananás ou uma maçã e junte ao iogurte ou até mesmo às sandes;
- Cenouras baby com frutos secos.
A obesidade é um problema de saúde pública e é uma doença. A tendência destes adolescentes que sofrem de obesidade aos 11, 12 ou 13 anos é serem adultos obesos. É terem diabetes, tensão alta, colesterol ou AVC. É sentirem-se mal consigo próprios, sentirem-se deprimidos e não terem energia nem mobilidade para brincar, por exemplo, com uma criança. É este o futuro que quer para o seu filho? Então faça já hoje a diferença na vida dele.