Todos nós temos um lado sombra Na relação com os outros o egoísmo pode estar…

Há vários tempos que venho a falar da comida, ou do desejo por determinados alimentos, como um vício. Tal como as drogas, o tabaco ou o álcool, também a comida (por exemplo, o açúcar) me parece uma dependência. Dependência essa que, como todas as outras, torna-se num problema de saúde pública, ultrapassando barreiras sociais, emocionais e físicas.
Mas como é que a comida pode chegar a ser um vício? Nós precisamos de nos alimentar e, por esse motivo, é uma necessidade fisiológica, certo? E porque falamos então de vício?
Ora, uma coisa é a alimentação por necessidade de sobrevivência e até aqui tudo bem. Outra coisa, é a alimentação por excesso, por desejo ou por compensações emocionais. E isto tornar-se-á, mais cedo ou mais tarde, num vício. Senão repare: acha que é necessidade fisiológica ou é vício, comer uma sobremesa depois da refeição? Acha que é necessidade fisiológica ou é vício beber um refrigerante, a acompanhar a refeição? Acha que é necessidade fisiológica ou é vício comer um pacote de bolachas, ao fim da tarde, quando chega a casa? São este tipo de situações que nos devem pôr a refletir. E, então, porque é que temos nós este vício?
Muitos são os fatores que podem levar-nos a adquirir um vício, principalmente: a busca de prazer, a compensação de sentimentos e emoções – ex. comer para “aliviar” a tristeza, a ansiedade, a tensão, etc. O vício instala-se quando come certos alimentos de forma repetida e abusiva, sem conseguir controlar. Muitas vezes, até come às escondidas, para ninguém ver e, assim, não ser julgado.
O tratamento tem de ser multidisciplinar. E por isso, na maior parte das vezes, as dietas falham. De que serve saber comer bem; se depois não o consegue pôr em prática? Se depois, às 19:00 horas, quando chega a casa, não consegue deixar o pão com manteiga e fiambre?
Tudo isto tem de começar por si. Tem de começar por acreditar em si próprio e acreditar de que é capaz. A baixa motivação e a fraca adesão aos tratamentos são, muitas vezes, o problema das dietas falhadas. Porque custa. Porque, “assim do nada”, não é fácil começar a deixar os vícios (açúcar, pão, fritos, gorduras, etc.).
A motivação é o ponto chave de todo o processo. E a motivação é, frequentemente, vista como um “bicho papão”. Ou seja, as pessoas pensam que é difícil adquirir essa motivação, num processo de perda de peso, ou num processo de deixar o vício da comida.
Claro que no início, há uma negação por parte da pessoa que quer perder peso. Por um lado quer, não gosta de se ver assim mas, por outro, sabe que vai ser difícil e tem medo dessa dificuldade e da mudança. Mas depois, juntamente com um psicólogo, começa a consciencialização de que há um problema. Consciencializa-se de que a obesidade é, efetivamente, um problema. E grave! Depois, a motivação começa a surgir, fruto disso mesmo. Dessa descoberta e consciencialização do problema. Criam-se estratégias para a realização da mudança e a pessoa começa a tomar atitudes, com um objetivo já previsto. Claro que este é um período que exige muita dedicação e energia pessoal; contudo, os ganhos adquiridos sobrepõem-se a todos os esforços. Todas as pessoas o dizem. E, portanto, há que acreditar em si. Há quer perceber que a motivação é uma coisa que se vai ganhando e aprendendo. Que tem vários estágios, ou várias fases, mas que, juntamente com a ajuda de um profissional de saúde – um psicólogo, conseguirá passar por cada um desses estágios e chegar à parte que, a meu ver, é a parte mais importante de todo este processo: a manutenção do peso.
Perder peso é difícil, contudo, mantê-lo ainda mais difícil poderá ser se não tiver tido a ajuda multidisciplinar de que tanto falo. Sabia que os tratamentos de perda de peso, associados à terapia cognitivo comportamental têm 90% mais de eficácia do que sem a ajuda psicológica?
Pois é! Há que pensar! Mas, sobretudo, há que acreditar em si próprio e gritar cá para fora “Eu consigo!” Esse será o primeiro passo motivacional: acreditar em si!